19.4.10

FRAGMENTOS DE PECADO





Sapatos vermelhos, verniz infantil a ofuscar-me os olhos. Meias alvíssimas, longas e finas pernas, no mesmo tom das meias, a perderem-se das vistas num emaranhado azul-pregueado da sala escolar.


Todos os dias, postava-me ali, no banco a fitá-la. Inclusive quando sabia que ela não estaria lá.


Sua presença indelével, sua energia esfuziante emanava permanentemente e, meus sentidos, inebriados, ainda hojea vêem ali, a segurar os livros de encontro ao colo, olhar baixo e lânguido por entre rubros e cacheados cabelos.


A primeira vista já tive tocada a alma, desde então vivendo aos solavancos dentro de mim.


Das certezas em minha vida, todas anularam-se e passei a um estado de adoração e graça, exultantes em meu peito amor e devotamento àqueles sapatos vermelhos.


Nunca a quis para mim, pois já era minha, já era tudo, da luz que acorda os olhos ao derradeiro suspiro. Passara a habitar em mim como nem eu mesmo habitava.


Talvez, por sorte, ela nunca tenha existido. Por isso, meus sonhos e vida nunca foram frustrados.


Vivi e depois, não mais, por ela e para ela. Sem nunca entender mais nada que não fosse vermelho.


LuLi

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